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Dorina Nowil

Filha de pai português e mãe italiana, Dorina de Gouvêa Nowill nasceu em São Paulo no dia 28 de maio de 1919. Com a ajuda da professora de piano de sua irmã mais velha, foi alfabetizada aos quatro anos de idade e, já em idade bem avançada, dizia lembrar-se perfeitamente da figura que ilustrava o livro no qual aprendera a ler.
Logo depois de completar 17 anos, uma doença não diagnosticada afetou seriamente sua visão e, embora muitos oftalmologistas fossem consultados e diversos tratamentos fossem aplicados, a cegueira total não pôde ser evitada. Com a certeza de que a cegueira era irreversível Dorina seguiu em frente com a aceitação de sua nova condição de vida e o desejo de continuar estudando.

Foto preto e branco de Dorina Nowill jovem.
Dorina Nowill jovem.

O grande desafio viria, porém, nos primeiros anos da década de 1940, quando Dorina conheceu Regina Pirajá da Silva, inspetora de alunos da Escola Normal Caetano de Campos, uma das mais tradicionais e conceituadas instituições de ensino do estado de São Paulo. Vendo o grande potencial da jovem Dorina, Regina começou a abordar a importância dos livros em braile para a educação das crianças cegas. A seu convite Dorina se tornou a primeira aluna cega a frequentar um curso regular na Caetano de Campos.
Ao concluir o curso, Dorina, incentivada por uma professora, procurou o Departamento de Educação do Estado de São Paulo e, apresentando um minucioso relatório sobre a experiência realizada por ela juntamente com suas colegas, solicitou que fosse reconhecido o Curso de Especialização de Professores de Cegos na mesma instituição que se formara.
Pouco antes do término da Segunda Grande Guerra, a Cruz Vermelha Brasileira cedeu uma sala para que voluntárias aprendessem e treinassem a escrita por meio do Sistema Braille com o objetivo de transcrever livros destinados à formação de uma biblioteca para cegos.
A transcrição era feita por meio das poucas regletes existentes e da chamada “Pauta Braille”, desenvolvida por Regina Pirajá da Silva. A Pauta Braille constava de uma folha de cartolina totalmente preenchida com Celas Braille (os seis pontos em relevo que constituem a base do Sistema Braille) que, quando pressionada sobre uma camada de mata-borrão, flanela ou lã, permitia a produção dos caracteres desejados em papel.
Diante deste cenário o embaixador José Carlos de Macedo Soares, (à época, interventor do estado de São Paulo) sensibilizado pelo trabalho desenvolvido pelas copistas voluntárias, conseguiu que a Companhia Paulista de Estradas de Ferro colaborasse para a produção das primeiras regletes brasileiras, que, segundo contava Dorina, eram de ótima qualidade.
Em breve, os livros produzidos pelo grupo de copistas voluntárias foram organizados em um espaço cedido por Lenira Fracarolli, diretora da Biblioteca Infantil Monteiro Lobato, que passou a ser frequentado regularmente pelos alunos do Instituto Padre Chico. Posteriormente, o espaço transformou-se na Sala
Braille daquela biblioteca, e hoje seu acervo, enriquecido por outros acervos, constitui a Biblioteca Louis Braille do Centro Cultural São Paulo.
Aos poucos, o exemplo da capital paulista foi sendo seguido e atualmente existem espaços acessíveis para pessoas com deficiência visual em praticamente todas as bibliotecas públicas do país.
O trabalho de Dorina e de suas colaboradoras, porém, não conhecia tréguas nem limites. Para ampliar a produção de livros e desenvolver atividades de apoio à educação de crianças e jovens cegos, era necessário criar uma organização que pudesse receber recursos públicos e particulares.
Para realizar esse novo sonho, uma vez mais Dorina contou com a colaboração de sua madrinha, Carmen Santos Meira de Vasconcelos, que a apresentou a Adelaide Reis de Magalhães, uma jovem inteligente e de espírito empreendedor. Depois de aprender o Sistema Braille e trabalhar para a expansão do grupo de copistas voluntárias, Adelaide empenhou-se na criação da organização sonhada por Dorina. E foi assim que, em 11 de março de 1946, foi inaugurada a Fundação para o Livro do Cego no Brasil.

Imagem preto e branco. Três mulheres trabalhando na primeira sede da Fundação.
Sede da Fundação para o Livro do Cego no Brasil.

A Fundação para o Livro do Cego no Brasil, hoje Fundação Dorina Nowill para Cegos, tinha como principal objetivo a produção e a distribuição de livros em braile, mas seu estatuto previa o desenvolvimento de outras atividades voltadas à educação e à reabilitação de pessoas com deficiência visual.
Dorina se especializou em educação de cegos no Teacher´s College da Universidade de Columbia, em New York, EUA. Naquela ocasião, participou de uma reunião com a Diretoria da Kellog’s Foundation, onde expôs o problema da falta de livros em braile para cegos brasileiros e a necessidade de se conseguir uma Imprensa Braille para a Fundação que havia criado no Brasil. Assim, em 1948, a Fundação para o Livro do Cego no Brasil recebeu, da Kellog’s Foundation e da American Foundation for Overseas Blind, uma Imprensa Braille completa, com maquinários, papel e outros materiais.
Em 1953, foi inaugurado, na Vila Clementino, o prédio no qual funciona até hoje a Fundação e que foi cedido pela Prefeitura, o que permitiu a aquisição de outros equipamentos e matéria-prima para a continuidade do trabalho da Fundação.
Na década de 1960, Dorina dirigiu a Campanha Nacional para a Educação de Cegos, instituída pelo Ministério da Educação, deixando como marca inesquecível de sua gestão a modernização das escolas especializadas, a capacitação de inúmeros professores que passaram a atuar em salas de recursos e no ensino itinerante e a integração de centenas de alunos com deficiência visual no sistema regular de ensino.
Em 1974, a professora Dorina, já bastante atuante no movimento nacional e internacional de pessoas cegas, comandou um exército de centenas de voluntários que a ajudaram durante a organização e a realização do Congresso Mundial e da V Assembleia Geral do Conselho Mundial para o Bem-estar dos Cegos. Os dois eventos, realizados em São Paulo, contaram com representantes de 63 países, e algumas sessões do Congresso foram assistidas por mais de mil pessoas.
A partir de meados da década de 1980, a Fundação buscou a consultoria de especialistas do Royal National Institute for the Blind (Inglaterra) e, com o apoio de outras organizações internacionais (Organização Nacional de Cegos Espanhóis [Once] e Latin American Zentrum – Alemanha) e de empresas e universidades brasileiras adquiriu impressoras, computadores e softwares de última geração que permitiram que sua Imprensa Braille se tornasse, já a partir dos anos 1990, uma das mais modernas do mundo.
Preocupada em oferecer o melhor às pessoas com deficiência visual no Brasil, Dorina esteve sempre atenta às novas tecnologias e aos benefícios proporcionados por elas. Nesse sentido, no início da década de 1970, inaugurou na Fundação um moderno centro de produção de livros falados e uma biblioteca circulante que permitia que pessoas de todo o país pudessem receber esses livros.
Em 1981, aconteceu um grande marco de destaque na vida de Dorina Nowill, que discursou na Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU), que proclamou na época como o Ano Internacional das Pessoas com Deficiência.

No ano seguinte, Dorina lutou, também, pela abertura de vagas e encaminhamento das pessoas com deficiência para o mercado de trabalho. Durante a Conferência da Organização Internacional do Trabalho (OIT), em Genebra, Dorina conseguiu que a Recomendação 99, sobre a reabilitação profissional, fosse discutida.
Em 2006, a Fundação Dorina avançou e começou a investir em novas tecnologias acessíveis, iniciada pela produção de livros digitais, tendo como principal objetivo o atendimento às necessidades de estudantes universitários com deficiência visual.
Já a Imprensa Braille da Fundação Dorina é hoje a maior da América Latina e uma das maiores do mundo. Além de obras didáticas e literárias, partituras musicais e atlas geográficos, produz livros infantis no formato tinta/braile, destinados a crianças cegas e com baixa visão e que facilitam a interação entre essas crianças e seus familiares, amigos e colegas.
Quase oito anos são passados desde que Dorina deixou de existir fisicamente (em 29 de agosto de 2010), mas seus ideais continuam vivos na mente e no coração dos dirigentes e colaboradores da Fundação, que, desde 1991, leva seu nome.
Em seus últimos anos de vida, Dorina se preocupava em difundir o trabalho da fundação que criou, sua experiência e o Sistema Braille, por meio de trabalhos com a comunidade, professores e palestras requisitadas por empresas, escolas, universidades e instituições de São Paulo e do Brasil.

 * Fonte: Youtube

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